Por Bruno Sawyer
Confira a entrevista que fiz com o bem humorado e virtuoso pianista Glauco de Vita. Além destes atributos, inteligência e personalidade forte são características marcantes do músico.
Leia a entrevista até o fim, pois há uma surpresa! (principalmente para os fãs de rock progressivo)
01) Conte-nos um pouco sobre seu trabalho.
Glauco: Qual deles, Bruno? (risos). Bom, musicalmente falando
eu me classifico como um tanto “anárquico”, pois bebo de várias fontes sem me
ater a informações (talvez seja um “erro”), mas respeito meu funcionamento... Já
fiz trabalhos de jingles, peças com roupagem erudita, também New Age, bem como
diversos tipos de arranjos e variações sobre temas já existentes e escrevo
partituras quando solicitado.Também viabilizo composições de outros (sabe
aqueles caras que têm “ótimas letras” e “ideias”? Então... Eu traduzo e faço
arranjos para esse tipo de coisa).
Já toquei em casamentos e colações de grau; acompanhei e
acompanho cantores em configuração de piano e voz (tanto lírico quanto popular). Bom... Tenho umas brincadeiras no Soundcloud e no You Tube.
02) Quando você começou a se interessar por música?
Glauco: Lembro-me de quando criança (uns 4 anos) de ter
quebrado um pianinho de brinquedo da Hering (pianinho de cauda azul, com pernas
brancas) porque o som era uma bosta; lembro-me também de que quando ia com meus
pais a algum restaurante em que tocava alguma banda ao vivo, eu torcia o
pescoço pra ficar olhando para o palco; mas de forma mais objetiva, comecei aos
11 anos indo direto para o piano (contrariando meu pai, que queria que eu
tocasse violão), e após 3 anos segui no instrumento como autodidata (DE VERDADE,
ESTUDANDO e não “enrolando” como muitos que se dizem “autodidatas”).
03) Quais instrumentos você toca?
Glauco: Meu instrumento é o piano, Bruno. Mas também aprendi
sozinho violão, guitarra, flauta e também considero o canto como instrumento
(embora neste eu ainda tenha muito a ser trabalhado).
04) Você gosta de rock?
Glauco: Pergunta tão sucinta quanto complexa, pois vejo o rock
como uma “miríade de multiplicidades”; é como perguntar se você gosta de
comida, por exemplo... Gosto de algumas coisas, detesto algumas e outras tanto
faz. Mas aprecio sempre a qualidade dentro de cada estilo, embora eu não
tenha propriamente uma “cultura rock”.
05) O que você acha da mistura de música clássica e rock?
Glauco: É nítida a quantidade de excelentes músicos com formação
erudita que compõem o cenário do rock.
Um exemplo a ser citado (puxando a brasa pro meu
instrumento) é Rick Wakeman, de formação, técnica e execução incontestavelmente
incríveis, pois ele conseguiu fazer o que raríssimos coneguem: unir o
sentimento à técnica apurada... Claro que fruto de muito estudo.
Um dado interessante acerca dele, que não sei se é de
conhecimento de todos, assim como acontece com Hermeto Paschoal, ele chegou ao
ponto de “tocar desenhos”, ou seja, em vez de uma partitura, havia desenhos de
árvores ou de casas e a proposta era “toque esta árvore, ou toque esta casa”,
fazendo com que os sentimentos fossem escarafunchados e a criatividade aflorada
em plenitude de abstração.
Tenho um pouquinho de conhecimento
"catalogado" em Música "Erudita", sobre a qual fui cada vez
mais retrocedendo até começar a curtir Música Medieval.
Eu vejo muita coisa nova como simples mudança de
roupagem. Calça continua sendo calça, vestido continua sendo vestido... Nada
de essencialmente novo na praça. Os mais "inovadores" (tbm curto
Kraftwerk - eles eram eruditos e conseguiram "atravessar a ponte"
para a popularização da Eletrônica - e até hoje só reproduzem o que já faziam
em 1973/74) estão hoje na praia do Jazz, ainda sendo musicais de alguma
forma... Mas as pessoas não conseguem ouvir certos tipos de acordes ou
estruturas rítmicas diferenciadas sem acharem que estão
"errados"... A tecnologia
evoluiu muito, mas musicalmente não houve progresso, a despeito dos novos
instrumentos e da propagação globalizada das múltiplas estéticas musicais...
Classifico o "prog rock" como uma "colagem", mas as formas
ainda são extremamente conservadoras.
Por exemplo, o Jethro Tull e o Zappa que são tão reverenciados
por trazerem elementos eruditos ao rock, ou mesmo o Yngwie Malmsteen (Ego não
entra em questão aqui, rsrsrs) vejo como simplesmente “mais do mesmo” ou até
“menos do mesmo”, pois os originais superam em muito tanto no aspecto técnico,
como na distribuição dos instrumentos e sutileza de nuances... As “novas
gravações” viram caricatura na frente dos originais... (sorry, rockeiros, mas
seria falta de honestidade intelectual da minha parte falar o contrário)
Sem pensar que hoje ocorre muito aquela modinha de
literalmente “tacar uns caras de casaca tocando instrumentos de corda” como se
fosse um super clássico (vide a porcaria que ficou o KISS). Tal tendência foi iniciada com chave de ouro
pelos idos dos anos 2000 com o show dos Scorpions com a Filarmônica de Berlim –
que eu pessoalmente gostei muito, pois ao contrário dos supracitados, eles
enriqueceram o trabalho próprio e não empobreceram o trabalho dos eruditos,
sendo então uma forma de contramão. Talvez por isso tenha soado agradável para
mim, embora, repetindo: NADA DE NOVO NA PRAÇA MUSICALMENTE FALANDO.
06) Fale um pouco sobre o ensaio que você escreveu.
Glauco: Bruno, por volta de 2007 escrevi um ensaio intitulado
“A Vida é a Maior Onda”, em que eu descrevo meu “modelo de funcionamento do
Universo” tentando tirar componentes
místicas e religiosas sobre a dinâmica da Vida... Como tive formação em
Eletrônica e também estudo exaustivamente Psicologia e Espiritualidade,
consegui de certa forma integrar essas vertentes e o que Jung chama de
“sincronicidade” eu simplesmente chamo de “ressonância”, pois são fenômenos
ondulatórios, que nada têm de milagrosos, pois esta propriedade faz com que os
semelhantes não só se reúnam, como também se potencializem.
07) O que significa música para você?
Glauco: Música pra mim é a forma de trazer algo do inefável
para a materialidade, pois ela integra elementos de ambas as esferas... É a
expressão óbvia e universal de sentimentos e emoções – tanto é isso que acaba
ocorrendo gostarmos de músicas cujas letras estão em idiomas que muitas vezes
desconhecemos... Vejo a letra como pretexto.
Música é humanidade em plenitude, pois apenas nossa
espécie consegue qualificar, gerir e produzir deliberadamente sobre as
frequências audíveis (no caso da Música).
08) Agora deixo o espaço para que você me pergunte o que
quiser.
Glauco: Bruno, você tem uma capacidade invejável de catalogar,
informar-se e organizar informação... E agora irá ao mesmo tempo disseminar e
agregar com extrema qualidade e fluidez. E tudo isso aliado a muita sensibilidade
e competência. Qual o segredo? Forte abraço!
Bruno: Olha cara, não tem segredo nenhum e se tiver, eu não sei qual é (risos). Para a minha sorte (ou azar) a internet dispõe de bastante informação, basta ir atrás. Pesquisar em google, blogs, wikipedia e redes sociais faz parte do processo. O bacana das redes sociais é que você consegue ter o parecer de quem ouve. Então aprende a analisar mais aspectos da música, pois tem a ajuda dos comentários positivos e negativos pra isso.
Obviamente, os trabalhos que tiverem lançamentos físicos (a maioria esmagadora) merecem ser apreciados com olho na arte e ouvidos afiados. Além disso, conversar pessoalmente com é fã de um determinado trabalho faz toda a diferença.
Mais importante que isso tudo é o fato de gostar de música e, no meu caso, amar incondicionalmente o rock. Este sentimento é o motor inicial que me ajuda a correr atrás de qualquer informação de qualquer forma possível. E também me ajuda a transmitir estas informações da melhor forma possível.
Mais importante que isso tudo é o fato de gostar de música e, no meu caso, amar incondicionalmente o rock. Este sentimento é o motor inicial que me ajuda a correr atrás de qualquer informação de qualquer forma possível. E também me ajuda a transmitir estas informações da melhor forma possível.
Para conhecer mais do trabalho do Glauco, acesse os links abaixo:
www.youtube.com/glaucodevita
Para fechar com chave de ouro o músico gentilmente gravou um medley com canções de Rick Wakeman e Yes.
Dê o play e aproveite!
Dossiê do Rock: Revelando o Passado. Incentivando o Futuro.
Para fechar com chave de ouro o músico gentilmente gravou um medley com canções de Rick Wakeman e Yes.
Dê o play e aproveite!
Dossiê do Rock: Revelando o Passado. Incentivando o Futuro.