A Vespa Mandarina, inseto nativo da Ásia, igualmente
conhecida como Zangão Japonês ou Vespa Assassina, figura no topo da lista dos
insetos mais perigosos do Planeta. Essa classe de artrópode possui uma
neurotoxina cujo veneno mata, todos os anos, cerca de 40 pessoas ao redor do
mundo, além de dizimar outros insetos, como abelhas e louva-a-deuses.
Vespas
Mandarinas, no plural, também é o nome da banda paulistana – formada por Chuck
Hipolitho (guitarra e voz), Thadeu Meneghini (guitarra e voz), André Dea
(bateria) e Flavio Guarnieri (baixo) – que lança “Animal Nacional”, seu álbum
de estreia pela gravadora Deck. Tanto Vespas Mandarinas quanto “Animal
Nacional”são nomes que, nesse primeiro disco, se ajustam como uma carapuça e
guardam, ao longo de seus 41 minutos, inoculantes venenos político-sonoros.
As Vespas Mandarinas tiveram na populosa e sempre caôtica
cidade de São Paulo o cenário e a maior fonte de inspiração na qual sorveram
seu combustível. No álbum, a urbanidade de megalópole revela-se direta,
indireta, sonora e metaforicamente. O conjunto de influências musicais da
banda, que inscreve no rock de ascendência brasileira seu traço genético, é
amplo: vai da “era de ouro” do rock verde-amarelo, os anos 80, através de
bandas que chegaram ao mainstream – Titãs, Ira!, Paralamas do Sucesso e
Engenheiros do Hawaii – e outras mais subterrãneas, mas não menos importantes –
como, por exemplo, Gueto, Smack, Picassos Falsos e Violeta de Outono.
“Animal Nacional” valoriza as letras, o discurso, a
poesia e enfatiza, em muitas canções, as guitarras, grandes e robustas,
manejadas pela dupla Chuck/Thadeu. O acompanhamento de André e Flavio, baixo e
bateria respectivamente, dãoo corpo à massa sonora das Vespas Mandarinas. As
composições, segundo Meneghini, expressam profundidade, a “filigrana dourada”
que se perdeu no “desletrado” e superficial rock desses esvaziados tempos. A banda
encorpou esse “mojo letrístico ” – em certos momentos literário e romãntico e,
em outros momentos, ríspido e crítico –, contando com novas e antigas parcerias
musicais. Uma delas foi a contribuição do compositor de mão-cheia Adalberto
Rabelo Filho, da banda Judas, um dos grandes letristas dessa geração, e outra a
participação intelectual de Fábio Cascadura, da banda baiana Cascadura.
O álbum tem 12 faixas e, dentre elas, “Cobra de Vidro”,
já conhecida pelos fãs da banda. A música ganhou videoclipe dirigido pela lente
do cineasta Ivan Cardoso, mestre do “terrir”, diretor de filmes seminais como
“As Sete Vampiras” e “Escorpião Escarlate”.
“O Vício e o Verso”, pode-se dizer, é um rock
contemporâneo com letra setentista, de versos que poem o ouvinte a refletir:
“Ninguém vê a beleza nesse mundo em liberdade vigiada”.
Algumas canções são parcerias inéditas, casos de “A
Prova”, que tem o “espirito concretista” do titã Arnaldo Antunes e de “Santa
Sampa”, com Bernardo Vilhena (parceiro de longa data de Lobão). “Animal
Nacional”, a propósito, é o título de um poema de Bernardo Vilhena, escrito na
década de 70. Na música das Vespas Mandarinas, no entanto, a expressão alude à
“retomada do rock nacional”.
O álbum ainda traz as canções “O Amor e o Ocaso”, “Um Homem
Sem Qualidades” e a já conhecida “O Herói Devolvido”. Além das faixas “Rir no
Final” e “Não Sei O Que Fazer Comigo” – versão da música “Ya No Ser Qu Hacer
Conmigo”, dos uruguaios do El Cuarteto de Nos.
O disco foi gravado entre os estúdios Tambor (RJ) e
Costella (SP) e tem produção de Rafael Ramos.
Animal Nacional – “‘Animal Nacional’é um bicho que a
gente criou no cativeiro do nosso inconsciente, mas tem muito de consciente
nele também”, explica Thadeu Meneghini. “è uma valorização do que é brasileiro
sem o lado piegas e chato de ser nacionalista. É a representação de um Brasil
possível convivendo com o que é certo e errado, sem a sombra do politicamente
correto, sem o medo da intelectualidade e da comunicação popular”. É Um Brasil,
ele completa, inserido na cultura pop mundial. O Brasil do Raulzito, Ivan
Cardoso, Wally Salomão e Tiririca.
O guitarrista Chuck Hipolitho diz que o melhor rock
brasileiro dos anos 80 está no DNA das Vespas Mandarinas. Foi, para ele, uma
época tão legal e frutífera na arte no Brasil que tudo o que aconteceu na
música “infiltrou” em todo mundo – mesmo que indiretamente. “Eu era uma criança
e recebi tudo; as crianças estão abertas. Naquela época, no Brasil, eu acho que
existia uma equação muito interessante de ingenuidade, sagacidade, vontade e
criatividade dadas as limitações comerciais, sociais, políticas e técnicas. O
que gosto mesmo naquilo tudo é o poder de penetração e a conexão com o aqui e o
agora que tinha na época”.
“Animal Nacional” é a cura para o mundo superficial de
nossos dias. Um veneno que, ao mesmo tempo, é um antídoto para as falsas
modernidades.
Serviço
Data: 11 de Outubro de 2014
Local: Centro Cultural São Paulo (CCSP)
Endereço: Rua Vergueiro, 1000 - Liberdade, São Paulo - SP
Início: 19:00
Classificação: Livre
Ingressos: R$20,00
Sala Adoniran Barbosa (622 lugares)
Não perca tempo. Programe-se!
Fonte: CCSP