Gosta de música sem frescuras? Então confira
a nossa entrevista com a banda paulista de Punk Rock.
O baixista e vocalista Mario Mariones gentilmente bateu um papo
irreverente e produtivo conosco.
Confira abaixo a história e os “causos” da
banda:
01) Fico
muito feliz por entrevistá-los. Contem um pouco sobre a formação da banda
(quando se juntaram, formação de repertório, entre outros).
Mario: Pô, a gente que agradece a oportunidade! É
um grande prazer pra nós poder participar do Dossiê do Rock. Valeu !
Sobre a formação, o início: o embrião do Garrafa Vazia surgiu em 1998, na cidade em Rio Claro, interior de São Paulo.
Mas só em 2009 de fato decidimos levar mais a
sério a parada.
Na época eu descolei um bico de locutor das
Lojas Cem e com a bufunfa erguida gravamos quatro músicas, já sob o nome de
Garrafa Vazia, cantando em português.
Nessa época rolaram umas gigs legais,
festivais, como tocar com o Biohazard e o Cólera no Araraquara Rock num
estrutura surreal – com aqueles telões gigantescos, equipo de Marte, e também
tocamos ao lado Garotos Podres, isso em 2010.
Mas a formação atual e definitiva da banda só
viria a se firmar mesmo em 2011. Aí foi outra conversa.
Na guitarra veio o Hebert. Malaco velhaco dos
sons encardidos, de beldas baldeações de Olho Seco a Smiths, de GG Allin a
Adelino Nascimento. Era o guitarrista dos sonhos, com seus solinhos dementes e
bases sólidas, paredão sonoro e vocais do capeta estralado em conhacão.
Depois veio o Vadio, marofeiro dos bão, com
seu estilo drummer dos sonhos, todo chapado-dançante, nuns batuques nervosos e levada
versátil, detonando – o Vadio era de uma banda hardcore chamada Rejeição, ele curte
bastante Suicidal Tendencies, e uma brenfa também.
Estava arrumada a encrenca: o Garrafa Vazia
tornou-se o que é hoje, a sonoridade ficou bem mais delineada, concisa. Os sons
começaram a fluir com naturalidade, com cada um colocando seu barulho, e o
principal: estamos aí, eternos irmãos! Sem bad trip, sem ego e liro-liro porque punk rock é
insubordinação, ironia, liberdade, diversão, fraternidade nas ondas da descontração,
faça você mesmo.
Atualmente o repertório apresentado nos
bailes é composto dos discos Os Garrafa, Greatest Shits, Pedrerage Sessions, do
split com o lendário Hippies not Dead (de São Carlos, formado em 1995) e do
último, Back to Bacana.
02)
Quais são suas principais influências?
Mario: Punk rock e hardcore.
Mas as diferenças e semelhanças entre cada um
de nós são muitas.
O legal é que na hora da misturança sai um bolinho
de arroz doentão. Orvimos do blues de Chicago ao proto-brega caribenho mais
obscuro, do ruído de uma buzina dum Fusca 69 mocozada numa rádio AM muito mal
sintonizada ao chorinho de um bebê fã de Cannibal Corpse, tudo pode influenciar
e desenfluenciar a gente.
Mas nosso negócio mesmo é se divertir, é “o
jeito garrafa”: se reunir, ensaiar, celebrar a tosqueira, mandar bala, o som
mais cru, três acordes e um refrãozão que faz a gente sair sonhando feito
bestalhão por aí.
Falem um pouco sobre o processo de composição
de “Back To Bacana”. Houve alguma canção que deu mais trabalho para ficar
pronta?
Queríamos músicas curtas e num estilão maionese,
100% punk rock nonsense-descontração.
Estávamos atrás daquela euforia bobóide, sabe
– voltar aos atropelos malucóides, tempos de infinita infância, o sempre profano
rock and roll o punk rock como calor da convivência, suor energia, o punk rock
simprão como um grande foda-se para toda autoridade e regulamentação da vida.
Back to Bacana é a música simples com alma
sem amarras, e com aquela saudosa liberdade rasgando o horizonte, a terra e o
concreto no verbo rouco distorcidos, os amigos em festa, as tardes encachaçadas
em alegria, queríamos isso.
No fim gravamos no porão da lendária Pé de
Macaco oito canções que acreditamos que foram de encontro nessa praça da folia,
de encontro ao propósito chapa quente da existência, bacana.
Nenhuma canção deu trampo não. Gravamos tudo ao
vivão, só fazendo os vocais separados. Bem divertido. Em três horas gravamos
tudo.
03)
Falem um pouco sobre como foi concebida a arte da capa do disco?
Mario: Essa obra prima é dele, do Luiz Berger. Conheci
o Luiz Berger através do meu primo Sebastião Casagrande (Medo & Demência).
O Luiz é punk rocker chefia de outro planeta, sem palavras mesmo: desenha pra
caralho, gorfa cada enredo porcão temática dementelóide no traço dementóide e onda
sarjeta suja e é nosso herói, se você não conhece a arte fudida dele não perca
essa chance, a Maximum Rock and Roll achou o trampo dele supimpa, por exempro.
04) Vocês
já tem um tempo de estrada. Há alguma história inusitada que podem contar para
nós?
Mario: Tem umas histórias bem doideras.
Certa vez o Vadio – lesadão de brenfa – pegou
a motoca e decidiur ir ao show sozinho.
A real é que ele acabou não achando o lugar.
Entrou na cidade errada. Mas só percebeu isso quando chegou num galpão vazio.
Andando por lá topou com dois tiozinhos sentados, bem tranquilos, e perguntou se era ali que seria o festival. A
resposta de um dos senhorzinhos foi enfática:
- Festival? Só se for de carteado...
Numa outra mão fomos tocar com o DZK, aqui no interior mesmo.
Naquele dia o técnico de som estava beldão,
todo fodido numa ressaca de deixar o Bukowski tímidão. Todo torto, o tiozinho
tava lá morrendo, com o braço quebrado, numa ressaquêra infinita, e tudo que
ele queria era um cigarro – de resto o mundo podia explodir que pra ela isso
era o de menos.
Conclusão: ele dormiu dentro da komboza e
largou tudo lá, no maior “foda-se”. Aí que curtimos tocar alto né – meio que
sem querer, queimamos quase que toda a aparelhagem por descuido dele, “liga aí,
vou ali dormir e já volto” – e no fim o malucão lá roncando e o PA torrado.
Sorte que sobrou um, aí o festival prosseguiu
numa boa, com o Barata do DZK parceirão cantando Punk do Mato com a gente,
incrusive.
Bom, mas não pára por aí: no dia seguinte mal
acordamos e simbora tocar numa cidadezinha bem fera, diversão total logo ao
meio dia.
Tudo tranquilão, só na manha.
No final do show um tiozinho de um braço só insistentemente
“se ofereceu” para ser “nosso empresário”. Ele simplesmente não acreditava que
todas as músicas tocadas no show eram nossas. E ele lá alugando a gente, ele empolgadão como vitrola cheirada “guspindo”
cana, disse que tinha um escritório e que entendia um “pouco dos rock” e o
escambau, e se pá sacava também de cachaça e amnésia, tiozinho figuraça ele!
Todo mundo querendo rangar um pão com mortadela e o chefia lá cortando a onda
da turma.
05) Como
foi para vocês tocar ao lado de grandes bandas como GBH, Biohazard e Ratos de
Porão?
Mario: Porra, com o GBH foi fudido!
Uma aula de hardcore punk inglês, puta dia
inesquecível, os caras na deles, mó gente fina também, sem estrelismo.
Do Biohazard foi doido, o Vadio já é mais
ligado em hardcore nessa linha. E o mesmo dia tocamos com o Cólera, lembro que há
tempos conversava com o Rédson (RIP, chefia) sobre a possibilidade dele gravar,
produzir um disco do Garrafa lá no Mr.Som.
E do Ratos foi foda também, que tocamos no
festival símbolo aqui da cidade, o Rock do Equinócio na Antiga Estação
Ferroviária, que é um festival fodão, existe há mais de 14 anos, festivalzão de
caráter solidário – anos e anos de tradição e correria - que reúne legiões de headbangers
e punks, anualmente.
Na última edição tivemos a oportunidade de
mais uma vez tocar ao lado do Olho Seco, e foi surreal! Há muita energia aqui
no interior, é muito bão!
06) Como
vocês enxergam a cena atual do punk rock no Brasil?
Mario: Produtiva pra caralho. Uma infinidade de
bandas autênticas, que estão lançando trampos de deixar o Gugu Liberato com
vontade de tatuar faça você mesmo no cerebelo.
O Brasilzão todo é muito rico, criativo. Fica
difícil citar alguma banda, a gente esqueceria de muitas. Há sim muita
coletividade e bandas fudidas surgindo, selos e zines, correria, galera se
ajudando, cooperação e união, é legal pra caralho a movimentação.
Todavia, não posso deixar de destacar um
lugar vital para o underground em geral aqui no interiorzão, que é a querida
São Carlos.
São Caos é o bicho. Em São Carlos o trem é
doido, onde bandas como Hippies not Dead, Violent Illusion, Noise, Confusion,
Krokodil, Instinct Hate, Stinky Socs, SUC e Dead Human, Ataque Cerebral, Admirável
Sangue Novo e muitas outras (desculpe a leseira) representam demais – sempre na
irmandade e humildade, é sensacional.
07)
Deixem um recado para os fãs.
Mario: Pô, a gente fica realmente sem palavras para
agradecer o quanto a galera tem sido firmeza - valeu demais pessoal! Valeu pela
brodagem, presença, por colarem nos sons, bailando, cantando as músicas, trocando
aquela ideia massa, levando pra casa os cdzinhos, camisetas, é uma satisfação
incomensurável esse encontro, essa troca, o underground é nóis! Brigadão de
coração e preparem a zoreia e o pote que vem novo disco por aí, o barulho é
beldão, bailante y borracho!
08)
Muito obrigado pela entrevista e agora é a sua vez. Perguntem-me o que
quiserem!
Mario: Seguinte, Bruno: você que é um grande
incentivador dessa cultura e correria, me diga - com essa era da informação e o
escambau, que, de certo modo, deixou tudo mais caótico, descentralizado e
infernal – será que se pararmos de verdade pra pensar - será que não vivemos um
dos momentos mais intensos e instigantes da música dos
últimos tempos?
Bruno: Eu concordo cara. A verdade é que o mundo
está no olho do furacão neste momento. Com o crescimento espantoso das novas
tecnologias, principalmente da internet, a quantidade de informação veiculada
em todo e qualquer espaço é gigantesca e assombrosa.
Saímos de um tempo onde a grande maioria das
coisas que chegava até nós era bem editada e nos era entregue por pouquíssimos veículos
de comunicação e entramos num tempo onde recebemos informação demais,
principalmente da internet.
Antes as grandes gravadoras dominavam a
música e acabavam, de certa forma, matando os artistas independentes e também
seu artistas, podando sua criatividade e barrando o lançamento de seus trabalhos
através das cláusulas de seus contratos.
Atualmente, se você quiser conhecer uma banda
nova, é só ir na internet e pesquisar no Google pelo gênero. Além disso, as
redes sociais “indicam” bandas de um mesmo gênero, então se você curte uma
página de uma banda de hardcore, é capaz de conhecer outras e assim vai...
Tem muita gente que diz que o rock morreu no
Brasil e que não tem mais banda nova boa, mas eu acho isso papo furado, pois se
alguém vai fazer um som autoral num bar com couvert a R$10,00 nego não paga. Mas
paga R$2.000,00 num celular.
Tem muita gente boa por aí e eu fico feliz
por ajudar de alguma forma na divulgação do trabalho desse pessoal.
Confira mais sobre o trabalho da banda nos
links abaixo:
https://soundcloud.com/garrafavazia/sets/garrafa-vazia-back-to-bacana
https://www.facebook.com/pages/GARRAFA-VAZIA/206708446038506
https://www.facebook.com/pages/GARRAFA-VAZIA/206708446038506
Dossiê do Rock: Revelando o passado.
Incentivando o futuro.