quarta-feira, 1 de julho de 2015

Entrevista - Garrafa Vazia



Gosta de música sem frescuras? Então confira a nossa entrevista com a banda paulista de Punk Rock.



O baixista e vocalista Mario Mariones gentilmente bateu um papo irreverente e produtivo conosco.

Confira abaixo a história e os “causos” da banda:

01) Fico muito feliz por entrevistá-los. Contem um pouco sobre a formação da banda (quando se juntaram, formação de repertório, entre outros).

Mario: Pô, a gente que agradece a oportunidade! É um grande prazer pra nós poder participar do Dossiê do Rock. Valeu !

Sobre a formação, o início: o embrião do Garrafa Vazia surgiu em 1998, na cidade em Rio Claro, interior de São Paulo.

Mas só em 2009 de fato decidimos levar mais a sério a parada.

Na época eu descolei um bico de locutor das Lojas Cem e com a bufunfa erguida gravamos quatro músicas, já sob o nome de Garrafa Vazia, cantando em português.
Nessa época rolaram umas gigs legais, festivais, como tocar com o Biohazard e o Cólera no Araraquara Rock num estrutura surreal – com aqueles telões gigantescos, equipo de Marte, e também tocamos ao lado Garotos Podres, isso em 2010.

Mas a formação atual e definitiva da banda só viria a se firmar mesmo em 2011. Aí foi outra conversa.

Na guitarra veio o Hebert. Malaco velhaco dos sons encardidos, de beldas baldeações de Olho Seco a Smiths, de GG Allin a Adelino Nascimento. Era o guitarrista dos sonhos, com seus solinhos dementes e bases sólidas, paredão sonoro e vocais do capeta estralado em conhacão.

Depois veio o Vadio, marofeiro dos bão, com seu estilo drummer dos sonhos, todo chapado-dançante, nuns batuques nervosos e levada versátil, detonando – o Vadio era de uma banda hardcore chamada Rejeição, ele curte bastante Suicidal Tendencies, e uma brenfa também.

Estava arrumada a encrenca: o Garrafa Vazia tornou-se o que é hoje, a sonoridade ficou bem mais delineada, concisa. Os sons começaram a fluir com naturalidade, com cada um colocando seu barulho, e o principal: estamos aí, eternos irmãos! Sem bad trip,  sem ego e liro-liro porque punk rock é insubordinação, ironia, liberdade, diversão, fraternidade nas ondas da descontração, faça você mesmo.

Atualmente o repertório apresentado nos bailes é composto dos discos Os Garrafa, Greatest Shits, Pedrerage Sessions, do split com o lendário Hippies not Dead (de São Carlos, formado em 1995) e do último, Back to Bacana.

02) Quais são suas principais influências?

Mario: Punk rock e hardcore.

Mas as diferenças e semelhanças entre cada um de nós são muitas.

O legal é que na hora da misturança sai um bolinho de arroz doentão. Orvimos do blues de Chicago ao proto-brega caribenho mais obscuro, do ruído de uma buzina dum Fusca 69 mocozada numa rádio AM muito mal sintonizada ao chorinho de um bebê fã de Cannibal Corpse, tudo pode influenciar e desenfluenciar a gente.

Mas nosso negócio mesmo é se divertir, é “o jeito garrafa”: se reunir, ensaiar, celebrar a tosqueira, mandar bala, o som mais cru, três acordes e um refrãozão que faz a gente sair sonhando feito bestalhão por aí.

Falem um pouco sobre o processo de composição de “Back To Bacana”. Houve alguma canção que deu mais trabalho para ficar pronta?
Queríamos músicas curtas e num estilão maionese, 100% punk rock nonsense-descontração.

Estávamos atrás daquela euforia bobóide, sabe – voltar aos atropelos malucóides, tempos de infinita infância, o sempre profano rock and roll o punk rock como calor da convivência, suor energia, o punk rock simprão como um grande foda-se para toda autoridade e regulamentação da vida.

Back to Bacana é a música simples com alma sem amarras, e com aquela saudosa liberdade rasgando o horizonte, a terra e o concreto no verbo rouco distorcidos, os amigos em festa, as tardes encachaçadas em alegria, queríamos isso.

No fim gravamos no porão da lendária Pé de Macaco oito canções que acreditamos que foram de encontro nessa praça da folia, de encontro ao propósito chapa quente da existência, bacana.

Nenhuma canção deu trampo não. Gravamos tudo ao vivão, só fazendo os vocais separados. Bem divertido. Em três horas gravamos tudo.

03) Falem um pouco sobre como foi concebida a arte da capa do disco?

Mario: Essa obra prima é dele, do Luiz Berger. Conheci o Luiz Berger através do meu primo Sebastião Casagrande (Medo & Demência). O Luiz é punk rocker chefia de outro planeta, sem palavras mesmo: desenha pra caralho, gorfa cada enredo porcão temática dementelóide no traço dementóide e onda sarjeta suja e é nosso herói, se você não conhece a arte fudida dele não perca essa chance, a Maximum Rock and Roll achou o trampo dele supimpa, por exempro.

04) Vocês já tem um tempo de estrada. Há alguma história inusitada que podem contar para nós?

Mario: Tem umas histórias bem doideras.

Certa vez o Vadio – lesadão de brenfa – pegou a motoca e decidiur ir ao show sozinho.

A real é que ele acabou não achando o lugar. Entrou na cidade errada. Mas só percebeu isso quando chegou num galpão vazio. Andando por lá topou com dois tiozinhos sentados, bem tranquilos,  e perguntou se era ali que seria o festival. A resposta de um dos senhorzinhos foi enfática:

- Festival? Só se for de carteado...

Numa outra mão fomos tocar com o DZK, aqui no interior mesmo.

Naquele dia o técnico de som estava beldão, todo fodido numa ressaca de deixar o Bukowski tímidão. Todo torto, o tiozinho tava lá morrendo, com o braço quebrado, numa ressaquêra infinita, e tudo que ele queria era um cigarro – de resto o mundo podia explodir que pra ela isso era o de menos.

Conclusão: ele dormiu dentro da komboza e largou tudo lá, no maior “foda-se”. Aí que curtimos tocar alto né – meio que sem querer, queimamos quase que toda a aparelhagem por descuido dele, “liga aí, vou ali dormir e já volto” – e no fim o malucão lá roncando e o PA torrado.

Sorte que sobrou um, aí o festival prosseguiu numa boa, com o Barata do DZK parceirão cantando Punk do Mato com a gente, incrusive.

Bom, mas não pára por aí: no dia seguinte mal acordamos e simbora tocar numa cidadezinha bem fera, diversão total logo ao meio dia.
Tudo tranquilão, só na manha.


No final do show um tiozinho de um braço só insistentemente “se ofereceu” para ser “nosso empresário”. Ele simplesmente não acreditava que todas as músicas tocadas no show eram nossas. E ele lá alugando a gente,  ele empolgadão como vitrola cheirada “guspindo” cana, disse que tinha um escritório e que entendia um “pouco dos rock” e o escambau, e se pá sacava também de cachaça e amnésia, tiozinho figuraça ele! Todo mundo querendo rangar um pão com mortadela e o chefia lá cortando a onda da turma.



05) Como foi para vocês tocar ao lado de grandes bandas como GBH, Biohazard e Ratos de Porão?

Mario: Porra, com o GBH foi fudido!

Uma aula de hardcore punk inglês, puta dia inesquecível, os caras na deles, mó gente fina também, sem estrelismo.

Do Biohazard foi doido, o Vadio já é mais ligado em hardcore nessa linha. E o mesmo dia tocamos com o Cólera, lembro que há tempos conversava com o Rédson (RIP, chefia) sobre a possibilidade dele gravar, produzir um disco do Garrafa lá no Mr.Som.  

E do Ratos foi foda também, que tocamos no festival símbolo aqui da cidade, o Rock do Equinócio na Antiga Estação Ferroviária, que é um festival fodão, existe há mais de 14 anos, festivalzão de caráter solidário – anos e anos de tradição e correria - que reúne legiões de headbangers e punks, anualmente.

Na última edição tivemos a oportunidade de mais uma vez tocar ao lado do Olho Seco, e foi surreal! Há muita energia aqui no interior, é muito bão!

06) Como vocês enxergam a cena atual do punk rock no Brasil?

Mario: Produtiva pra caralho. Uma infinidade de bandas autênticas, que estão lançando trampos de deixar o Gugu Liberato com vontade de tatuar faça você mesmo no cerebelo.

O Brasilzão todo é muito rico, criativo. Fica difícil citar alguma banda, a gente esqueceria de muitas. Há sim muita coletividade e bandas fudidas surgindo, selos e zines, correria, galera se ajudando, cooperação e união, é legal pra caralho a movimentação.

Todavia, não posso deixar de destacar um lugar vital para o underground em geral aqui no interiorzão, que é a querida São Carlos.

São Caos é o bicho. Em São Carlos o trem é doido, onde bandas como Hippies not Dead, Violent Illusion, Noise, Confusion, Krokodil, Instinct Hate, Stinky Socs, SUC e Dead Human, Ataque Cerebral, Admirável Sangue Novo e muitas outras (desculpe a leseira) representam demais – sempre na irmandade e humildade, é sensacional.

07) Deixem um recado para os fãs.

Mario: Pô, a gente fica realmente sem palavras para agradecer o quanto a galera tem sido firmeza - valeu demais pessoal! Valeu pela brodagem, presença, por colarem nos sons, bailando, cantando as músicas, trocando aquela ideia massa, levando pra casa os cdzinhos, camisetas, é uma satisfação incomensurável esse encontro, essa troca, o underground é nóis! Brigadão de coração e preparem a zoreia e o pote que vem novo disco por aí, o barulho é beldão,  bailante y borracho!

08) Muito obrigado pela entrevista e agora é a sua vez. Perguntem-me o que quiserem!

Mario: Seguinte, Bruno: você que é um grande incentivador dessa cultura e correria, me diga - com essa era da informação e o escambau, que, de certo modo, deixou tudo mais caótico, descentralizado e infernal – será que se pararmos de verdade pra pensar - será que não vivemos um dos momentos mais intensos e instigantes da música dos últimos tempos?

Bruno: Eu concordo cara. A verdade é que o mundo está no olho do furacão neste momento. Com o crescimento espantoso das novas tecnologias, principalmente da internet, a quantidade de informação veiculada em todo e qualquer espaço é gigantesca e assombrosa.

Saímos de um tempo onde a grande maioria das coisas que chegava até nós era bem editada e nos era entregue por pouquíssimos veículos de comunicação e entramos num tempo onde recebemos informação demais, principalmente da internet.

Antes as grandes gravadoras dominavam a música e acabavam, de certa forma, matando os artistas independentes e também seu artistas, podando sua criatividade e barrando o lançamento de seus trabalhos através das cláusulas de seus contratos.
Atualmente, se você quiser conhecer uma banda nova, é só ir na internet e pesquisar no Google pelo gênero. Além disso, as redes sociais “indicam” bandas de um mesmo gênero, então se você curte uma página de uma banda de hardcore, é capaz de conhecer outras e assim vai...

Tem muita gente que diz que o rock morreu no Brasil e que não tem mais banda nova boa, mas eu acho isso papo furado, pois se alguém vai fazer um som autoral num bar com couvert a R$10,00 nego não paga. Mas paga R$2.000,00 num celular.

Tem muita gente boa por aí e eu fico feliz por ajudar de alguma forma na divulgação do trabalho desse pessoal.


Confira mais sobre o trabalho da banda nos links abaixo:


Dossiê do Rock: Revelando o passado. Incentivando o futuro.