Por Bruno Sawyer
A banda paulista de punk nos
concedeu uma bela entrevista, onde falou um pouco sobre sua carreira, o novo
disco, política, entre outras coisas.
Seu disco de estreia, o autointitulado
Coice, foi lançado no início deste ano.
Confira abaixo:
01)
É uma honra entrevistá-los. Contem um pouco sobre a formação da banda (quando
se juntaram, formação de repertório, entre outros).
Diego: As
raízes do Coice remontam à hoje esquecida cena punk do Parque São Domingos nos
anos 90. Eu cantava numa banda na qual o Leandro era o baterista. O Marcão
cantava em outra. Há anos o Leandro e eu falávamos em voltar a tocar punk. Um
dia ele encontrou o Marcão e a banda começou a finalmente tomar forma. Como o
Marcão trouxe o Paulo para tocar baixo, eu precisei deixar o baixo de lado e
aprender a tocar guitarra (Algo que eu nunca tinha feito antes... "Do It
Yourself", literalmente).
Leandro: Minha primeira banda era o Totally Wrong, onde eu
era o baterista e o Diego era o vocalista. Bom passou-se alguns anos e a banda
acabou, fiquei parado um bom tempo, eu e o Diego sempre falamos em montar outra
banda e tal, acabamos montando uma banda de classic rock, onde o Diego tocava
baixo. Durou alguns anos. Fiquei parado
um bom tempo, mas o contato com o Diego sempre foi constante. Em certo tempo,
reencontrei o Marcão e ele tinha me convidado a pra tocar com ele (e logo nos
tornamos grandes amigos) e o Paulo, que era baixista na ocasião, mas aí acabou
faltando alguém para tocar guitarra. “Ah vamos chamar o Diego pra tocar com a
gente” porem ele não tocava guitarra. Entramos em contato com ele e a coisa foi
acontecendo e hoje ele toca guitarra no estilo Punk Rock como poucos.
Marcão: No
início de 2013, eu e o Paulo Plevnia estávamos tocando em uma banda cover de
Metallica, só por diversão, e queríamos fazer música própria. Eu e o Leandro
Corrêa, nessa mesma época, havíamos nos reencontrado depois de muitos anos via
Facebook. Resolvemos Paulo, Leandro e eu, nos reunirmos pra fazer um som. Sabia
que o Diego tocava baixo num projeto cover de Black Sabbath chamado Kings of
Hell. Pensei: "se o mano toca Black Sabbath no baixo, tocar guitarra numa
banda punk não vai ser tão difícil pra ele". Assim surgiu a primeira
formação do Coice, que começou a ensaiar em abril de 2013. Com a saída do
Paulo, que já estava planejando se mudar para a Austrália já havia um tempo,
chamamos o Marcus Betioli, outro cara que eu já conhecia fazia tempo por conta
de amigos em comum. Já tinha ouvido falar que ele era um ótimo baixista. No
primeiro ensaio com o Coice, em 2014, o mano já se encaixou perfeitamente na
banda.
02)
Quais são suas principais influências?
Diego:
Bom, adoro música de todos os estilos (O ecletismo da minha coleção de discos e
CDs é assustador), mas eu jamais seria músico se não fosse o Black Sabbath.
Marcus: Todos
têm um gosto bem eclético que vai do Jazz, Heavy Metal, Punk passando pelo Groove
dos anos setenta, mas o que me fez ir para o baixo foram as bandas inglesas de
Heavy Metal.
Leandro: Gosto
das grandes bandas de punk rock como Clash, Ramones, Dead Kennedys, Bad
Religion, bandas de hardcore como NOFX, Pennywise, Snuff, dos clássicos do rock
como Led Zeppelin, Black Sabbath, do grunge como, Pearl Jam, Alice in Chains. Já
toquei em banda de reggae, me influenciei muito nos clássicos do gênero como
Bob Marley, Peter Tosh, Gregory Isaacs e os clássicos do reggae roots.
Marcão: Mas
pro Coice, as influências são mesmo do punk dos Dead Kennedys, Ramones, Black
Flag, com um pouco de storner à la Black Sabbath e as bandas nacionais como
Garotos Podres, Cólera e Ratos de Porão.
03)
Vocês lançaram “Coice” seu disco de estreia há pouco tempo. Falem um pouco
sobre o processo de composição. Houve alguma canção que deu mais trabalho para
ficar pronta?
Diego:
Bom, as músicas do Coice podem ser dividas em três tipos quanto à composição:
As que o Marcão compõe as que eu componho e as que surgem nos ensaios a partir
da junção de riffs que ou trago ou invento na hora com as letras que o Marcão
ou traz ou inventa na hora. A única exceção a esta regra foi "Nunca
Mais", canção com os riffs feitos pelo Paulo, o baixista original do
grupo. Nenhuma das músicas deu mais trabalho. A coisa fluiu naturalmente.
Leandro: As
musicas saem de forma espontânea, um chega com um riff, o outro chega com a
letra, e vice versa, aí é que entra o Marcus e eu que vamos montando a musica e
acertando o tempo. Montamos a “estrutura” da musica, bom na verdade todos
participam de alguma forma.
04)
Como vocês veem a cena do punk brasileiro na atualidade?
Marcus: A
Cena Punk, como sempre continua no faça você mesmo, tem muita banda se
articulando e colocando o movimento pra funcionar. Em uma cidade como SP é
muito pouco os picos que abrem espaço pra essa galera.
Marcão:
Não
tem mais aquela força que tinha nos anos 80 e 90. Tanto que as principais
atrações de festivais de punk rock continuam sendo as bandas antigas. Cólera,
Olho Seco, Inocentes, Agrotóxico... Muitas vezes essas bandas marcam shows com
grupos novos abrindo, e o que acontece é que boa parte do público fica no
boteco bebendo e só entra no lugar na hora do show da banda principal. Tem que
mudar isso, né? Outra coisa que rolava nos anos 80 é que bandas como Legião
Urbana, Ira! e Titãs estavam sempre na mídia, tocando riffs punks. Acho que
isso meio que despertava um interesse maior das pessoas para o punk rock
brasileiro. Agora o Brasil é o país do sertanejo universitário. É praticamente
só isso que a gente vê na TV e que toca nas rádios. O rock foi totalmente
deixado de lado pela mídia. Tá certo que a cena punk nunca precisou muito de
mídia para rolar, mas o fato de o rock ter mais espaço antigamente ajudava.
Hoje, as casas de show que liberam o palco pra bandas punk em São Paulo são
muito poucas. Hangar 110 (a mais tradicional), Centro Cultural Zapata, Guaya
Pub são algumas delas, mas se outros picos que dão espaço pra nova MPB e
bandinhas indie dessem uma forcinha pro punk, não seria nada mal. Mas as bandas
novas tão aí, dando duro pra manter o punk rock vivo no Brasil.
05)
Como surgiu “Tudo Infestado”?
Diego: "Tudo Infestado" surgiu numa pausa de
ensaio. Fiquei sozinho no estúdio enquanto os demais foram tomar uma cerveja.
Fiquei brincando com a guitarra e o riff principal da música simplesmente
apareceu. Assim que o pessoal voltou comecei a tocar o riff (Principalmente
para eu não me esquecer da ideia) e o Marcão encaixou uma letra que ele tinha
escrito. Com o tempo, a letra foi mudada para a versão atual e inventei o solo
de guitarra e o final da música.
Marcão: É uma música que fala da corrupção dos
políticos, né? Um problema histórico no Brasil. E nós, como banda punk, não
poderíamos deixar de abordar o tema. Construí a letra a partir do refrão.
Pensei em versos que juntassem todos os níveis do poder legislativo e executivo
e ainda rimassem. E surgiu: "Ratos, que estão no Senado. E entre os
deputados. Governantes, ministros. E seus secretários. Tá tudo
infestado!".
06)
Entre ensaios e shows acontecem muitas coisas. Há alguma história inusitada que
podem contar para nós?
Diego:
Bom, antes do Paulo ir para a Austrália, fizemos um ensaio de despedida que
acabou numa divertida celebração etílica. De minha parte, devo admitir que foi
um desafio hercúleo conseguir tocar guitarra a partir de uma certa altura do
campeonato...
Leandro:
Esse dia foi memorável, pois nos permitimos tocar na maior “piração” etílica. Saíram
muitas ideias legais, algumas deram forma e hoje viraram algumas de nossas
musicas.
07)
O rock é um gênero que dá voz aos excluídos desde o começo. No caso do punk
rock, os protestos sociais e as críticas à política são características
marcantes. Como vocês enxergam o cenário político/social do Brasil atual?
Diego:
Bom, penso que vivemos tempos interessantes e fervilhantes. Como artista,
pessoalmente, sinto-me mais interessado nas perguntas do que nas respostas.
Gosto da ideia de ora entreter, ora causar questionamentos.
Leandro: Estamos
passando por uma época meio conturbada. Nossa musica é a forma que encontramos
para expressar o que sentimos quando vemos algo que nos incomoda, ou dando um
alerta para as pessoas que nossos recursos naturais estão se esgotando... Acho
que é isso! O Punk Rock é a forma que encontramos de forma objetiva para se
expressar.
Marcus:
Estamos vivendo um período que o conservadorismo e o fundamentalismo religioso
estão presentes no congresso de uma forma muito perigosa. Essa galera de
direita se sente representada no meio político. O punk é um movimento cultural
que tem que ser contra esse tipo de manifestação. O movimento punk tem que ser
critico ao ufanismo, a homofobia, a misoginia, a qualquer tipo de preconceito
com as minorias.
Marcão:
Sim, é função do punk expor e ridicularizar os imbecis fascistas, que tão aí,
fazendo marcha na avenida Paulista contra o “comunismo”. Bando de idiotas. Pra
esse pessoal a gente fez uma música nova, que pretendemos gravar em breve.
Chama-se "Fascista Paulista", porque esse povo reacinha, movimento
Proteste Já, em companhia, se concentra principalmente em São Paulo -- taí
Geraldo Alckmin ganhando no primeiro turno, coronel Telhada sendo o deputado
mais votado e indicado pra comissão de direitos humanos, “Feliciânus” (Pastor
Marcos Feliciano, deputado federal) tendo uma votação esmagadora em SP. Isso
nos irrita profundamente, pois, afinal, todos da banda são paulistas.
08)
Ser artista independente é bom?
Diego:
Penso que melhor coisa de ser um artista independente é a liberdade que temos
de fazer o som que queremos fazer.
Marcus:
Poder criticar quem tem que ser criticado e de uma forma contundente. O punk
tem que ser independente.
Leandro: Eu
acredito em que se estando na independência, ficamos livres para fazer nossa
musica da forma que quiser, sem interferência externa.
Marcão: Olha, na minha opinião, ser artista
independente é bom pelos aspectos que meus colegas acabaram de citar. Por outro
lado, não dá pra um artista independente, principalmente que toca rock,
sobreviver hoje só com a banda. Eu particularmente, gostaria de ter mais tempo
pra ficar compondo, organizando shows, gravando etc. Mas o Coice não é a
principal atividade de nenhum dos integrantes. Todos nós temos nossos empregos,
às vezes precisamos trabalhar de fim de semana, entrar no trampo muito cedo. E
isso atrapalha. Impede a gente de ensaiar, fazer shows. Se a gente pelo menos
conseguisse pagar nossas contas com o Coice, pode crer que já teríamos muito
mais discos e feito muito mais shows.
09)
Deixem um recado para os fãs.
Diego:
Agradecemos a todos os que nos prestigiam. Sem vocês nada seríamos. E, se
tiverem interesse, podem entrar em contato com a gente via nosso Facebook, e –
mail ou canal do Youtube:
10)
Muito obrigado pela entrevista e agora é a sua vez. Perguntem-me o que
quiserem!
Coice:
Quem vocês gostariam de entrevistar e ainda não entrevistaram? Se vocês pudessem fazer somente uma pergunta
para este entrevistado, qual seria a indagação? Se souberem de um espaço pra
gente tocar ou de um festival que possam nos encaixar, vocês avisam? (Risos)
Bruno:
Olha pessoal, eu parei pra pensar aqui e há vários! (Risos) Mas um cara que eu
gostaria de entrevistar é um dos mestres que começou tudo isso que a gente
curte, o grande Chuck Berry. Provavelmente perguntaria para ele se algum dia
lhe passara pela cabeça que seria um dos pais do rock’n’roll.
E, com certeza, quando eu
souber de algo e puder ajudar eu aviso!
Muito obrigado!
Dossiê do Rock: Revelando o
passado. Incentivando o futuro.