Por Bruno Sawyer
A
banda santista está promovendo seu terceiro álbum de estúdio Revolution (2015).
O
vocalista Wanderson Barreto gentilmente conversou conosco e falou sobre o novo
disco, como foi tocar ao lado do Cavalera Conspiracy, um acontecimento
engraçadíssimo na estrada e muito mais!
Confira
abaixo:
01) É uma honra entrevistá-los.
Revolution é seu terceiro álbum de inéditas. Falem um pouco sobre o processo de
composição e gravação. Houve alguma canção que deu mais trabalho pra finalizar?
Wanderson: A
honra é toda nossa. Nós começamos a compor o disco em meados de 2013 e dessa
vez foi bem diferente. Vinnie Savastanno me ajudou muito com muitas ideias
legais de arranjos, melodias e o processo como um todo foi diferente. Primeiro
que dessa vez não usamos nada de teclado (todos os “barulhos” do disco foram
feitos na guitarra). Fizemos questão apenas de melodias nos refrões e não mais
nas bases. O baixo mais groove com menos notas acompanhando a batera e eu no
vocal. Tive que pela primeira vez pensar nos vocais por completo, ou seja, foi
totalmente novo para o RYGEL.
02) Falem um pouco sobre a bela arte do
disco. (de onde surgiu o conceito, como foi elaborada...).
Wanderson:
Quem fez a arte do Revolution foi o Vinnie Savastanno (nosso guitarrista e
designer) e o conceito apocalíptico tem dois sentidos:
1º - A árvore seca somos
nós (integrantes do RYGEL) que mesmo desacreditados, sobrevivemos a um
apocalipse de sentimentos (o disco fala de diversos sentimentos humanos);
2º
- Revolution porque para sobreviver numa situação dessas temos que nos
reinventar e renascer.
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Capa do disco / Arte: Vinnie Savastanno |
03) Como foi trabalhar com o Tiago
Hóspede?
Wanderson:
Trabalhar com o Tiago foi muito legal, nós nos conhecemos na feira da música
ano passado e a vibe foi excelente desde o início. Nós o escolhemos para
trabalhar comigo na produção do disco, pois queríamos que o RYGEL tivesse essa sonoridade
moderna do HardCore que o Tiago sabe fazer tão bem e, juntando com o que eu
tinha na cabeça, tinha certeza que iria dar certo. Eu queria fugir um pouco do
método tradicional de se fazer metal no Brasil, sempre com os mesmos
personagens e etc... Adoramos o resultado.
04) O Nando Fernandes (Cavalo
Vapor/Hangar) cantou a faixa Repentance. Como surgiu a oportunidade de
trabalhar com ele?
Wanderson:
Quando eu assumi os vocais do RYGEL em 2013 eu procurei o Nando para ser meu
professor de canto (pois meu conhecimento de vocal era muito raso e eu queria
fazer um bom trabalho com segurança e sem danificar a voz... começar do jeito
certo). Nesses 02 anos trabalhando juntos, viramos grandes amigos e ele,
durante as aulas, me ajudou a acertar as composições e melodias do vocal com a
experiência dele.
Quando
estávamos pra gravar eu perguntei se ele não queria me ajudar nas gravações
sendo um vocal coach/producer de voz no disco e ele aceitou na hora. Durante as
gravações rolou uma vibe legal, ele se empolgou com o trampo e perguntei pra
ele se ele queria cantar algo e talz, Ele disse que sim, montamos a linha dele
e rolou. Tenho aulas de técnica vocal com ele até hoje.
05) O que vocês acham da cena metal
brasileira?
Wanderson:
Nossa... Essa pergunta é muito ingrata, porque eu não gosto de ficar falando de
coisas ruins mas a cena metal brasileira está bem complicada e num ciclo
vicioso:
- Cada
vez menos lugares para as bandas se apresentarem, pois a cada dia um bar de
rock fecha as portas. A última grande perda foi o Blackmore Rock Bar em sampa
que anunciou que vai encerrar as atividades
- O
excesso de ofertas de “bandas” de péssima qualidade. Hoje, todo mundo tem uma
banda, todo mundo acha que é músico e todos querem tocar. Você abre o facebook,
tem 10 bandas novas a cada dia e se você ouvir as 10 com critério, se apenas
uma se salvar já é muito! Banalizou demais o lance de você ter uma banda e com
isso, os donos das poucas casas que sobram, se aproveitam para pegarem aquelas
bandas que tocam de graça, que não tem um trampo tão sério e bem feito e
colocam essas pra tocar, o que acaba “espantando” um público que já tem uma
certa resistência ao que é novo e esse passa a ir em bares que só tocam covers,
pois a possibilidade de não ter uma banda tosca tocando é maior e assim vai....
E pra piorar, agora ainda estamos em uma grande crise econômica aonde o músico
não consegue comprar um bom instrumento (porque é tudo importado), as despesas
das casas de show aumentaram significativamente e o público não tem mais
dinheiro pra gastar... Está bem complicado... Eu acho muito triste, pois temos
um celeiro de talentos no Brasil que muitos nunca terão a chance merecida.
06) Como foi tocar junto com o Cavalera
Conspiracy?
Wanderson: Foi
sensacional. Ficamos muito ansiosos em tocar no mesmo palco de um dos caras que
é um ícone do metal mundial e uma grande influência a todos do RYGEL, Max
Cavalera. Isso eu vou levar para o resto da minha vida.
07) Com três discos no curriculum a
banda já deve ter passado por bastante coisa. Vocês tem alguma história inusitada
para nos contar?
Wanderson:
Varias histórias... Por exemplo, da aventura de se pilotar uma Kombi que
alugamos para transportar a banda e o ‘equipo’ para viagens longas. Kombi essa
que não tinha nenhuma folga na direção, ELA TINHA FÉRIAS NA DIREÇÃO!!! Chegava
a 100km/h e a Kombi sambava na estrada como se fosse a mulata Globeleza!!! Com 06
indivíduos dentro que pareciam estar em um caminhão de galinhas, chacoalhando e
sempre ajeitando a carga (no caso nós e os equipos)!!! (Gargalhada) Nunca mais
faço isso na minha vida... Chega, estou ficando velho!!! (Risos)
08) Deixem um recado para os fãs.
Wanderson: Eu
gostaria de agradecer ao Dossiê do Rock pela oportunidade e a todos que tem nos
acompanhado nos shows, adquirido nosso merchandising, cantado as músicas
conosco... Agradeço de coração a todos que nos apoiaram e apoiam nessa jornada.
Muito obrigado a todos. Acesse www.rygel.net ou no facebook https://www.facebook.com/RygelOfficial .
Estamos no Spotify, Itunes , Google e etc...VALEU!!!
09) Agora é a sua vez, podem me
perguntar o que quiserem!
Wanderson: Vou dar a oportunidade de réplica pra vocês...
O que vocês acham da cena brasileira?
Bruno: Olha cara, essa é uma discussão que não dá
pra ser muito simplista. Mas, tentando ser sucinto, concordo contigo na questão
da pouca oferta de lugares para tocar e que muitos destes poucos acabam dando
oportunidade pras mesmas figurinhas carimbadas e muitas bandas ruins se
apresentarem. Grande parte dos bares começou a criar a cultura do “só cover” de
uns anos pra cá e o que vemos hoje é um reflexo disso. Além de saturarem a cena
com os mesmos covers de bandas que já encheram o saco, além dos famosos “classic
rock” da vida.
Eu não sou radical com relação aos
covers/bandas tributo. Há muitas bandas legais que nunca vieram ou virão ao
Brasil, além de outras várias que não existem mais. Encontrar músicos (leia-se:
pessoas que sabem o que estão fazendo com os instrumentos e as vozes) que
prestam uma homenagem de qualidade a esses artista é bem bacana. O problema é
quando apenas isso vira o foco. Aí caímos no problema da saturação do público.
Eu encontro essa resistência às bandas novas
autorais mais em pessoas acima dos 30 anos. A garotada, creio que ainda me
incluo nesta parcela (risos), aceita bem tudo que é novo e vai atrás ver. O
problema é que se não tem lugar pra essas bandas tocarem, esse público não vai.
Além disso, a mentalidade desse pessoal mais velho tem que mudar, pois
a galera que surge de tempos em tempos é que renova o nosso bom e velho rock’n’roll.
Algo
que talvez ajude a quebrar essa barreira é aumentar o espaço para as bandas
independentes e autorais atuais nas rádios e TV. Esses meios de comunicação de
massa ainda fazem bastante diferença. O problema nesse caso é o que todo mundo
sabe, o bom e velho jabá pra colocar os caras lá. A não ser que alguém com
certo prestígio e muito gente boa sirva de pistolão dos caras, não há muito o
que fazer.
No quesito
das bandas, talvez falte mais profissionalismo em muitas. Fazer uma gravação decente,
se inteirar nas formas de distribuir suas músicas, melhorar como músicos,
pensar na banda como uma empresa, investir numa assessoria de imprensa e por aí
vai... Mas neste quase 01 ano e meio de blog eu já me deparei com algumas
sensacionais, falando só de metal, que mostraram trabalhos impecáveis e que
trabalham pra garantir seu espaço.
Só
sobre a questão econômica que ninguém tem controle. Se o governo decide foder
todo mundo, não tem muito o que fazer e dificulta pacas mesmo.
Enfim,
acabei me alongando, mas é fato que o momento não é dos melhores. Porém,
enquanto houverem bandas como a sua e outras que conheço, além de gente como eu
e outros comunicadores independentes, espaço (por pouco que seja) em bares e
ouvintes inquietos e amantes de música, a cena não morrerá. Pode enfraquecer,
mas morrer jamais!
Espero
não ter falado muita besteira (risos). Muito obrigado pela gentileza e atenção
dispensada.
Grande
abraço e muito sucesso pra vocês!
Links relacionados:
Dossiê
do Rock: Revelando o passado. Incentivando o futuro.