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Seu Juvenal / Foto: Germano Neto |
O rock evoluiu bastante e, com isso, foram inúmeros os
rótulos criados para especificar suas vertentes. O problema é que como não há
um padrão com critérios claros para tal criação, acabamos conhecendo um rótulo
novo por minuto, com especificações esdrúxulas como “metal progressivo da
macedônia com alaúde ocidental”, por exemplo.
No caso do Seu Juvenal, não dá pra rotular e isso é
ótimo! Muito da originalidade das bandas (um dos componentes mais marcantes de
um artista) vem do fato de não se enquadrar em nada já conhecido.
O grupo mineiro faz bem a síntese de suas influências e,
como dito para nós pelo vocalista Bruno Bastos, gosta de criar algo que saia
dos padrões pré-estabelecidos.
Rock
Errado foi produzido por Ronaldo Gino, com co-produção do
guitarrista Edson Zaca , Seu Juvenal e Guilherme Diamantino. A bela mixagem
ficou a cargo do prório Edson, sendo feita no Lab. Áudio Na Passagem em
Mariana/MG. Masterização feita por Cesar Santos no Estúdio Verde em Belo
Horizonte/MG. Foto da contra capa por Germano Neto e design gráfico e
ilustração por Dinho Bento.
A faixa de abertura mostra um pouco da essência da banda.
Homem Analógico conta com uma letra
crítica que traça um paralelo entre o mundo analógico de poucos anos atrás e o
atual, quase completamente digital, expondo a superficialidade e fragilidade do
mesmo. O arranjo é bem enérgico e o refrão é daqueles que gruda na cabeça.
“[...] Eu sou o homem analógico
Um morto vivo...
... Um inseto em busca de um amor de carne e osso [...]”
Free
Ordinária começa com uma bateria cadenciada e apresenta todo sua
força com o peso da guitarra que flerta com o metal. A linha de baixo é bem
rica e o vocal de Bruno Bastos é bem marcante.
Aliás, as frases são construídas de uma forma interessante
durante todo o disco, hora sendo cantadas, hora declamadas.
Antropofagia
Disfarçada apresenta um arranjo bem punk no começo que depois se
torna swingado, mas não menos direto e pesado. Asfalto vem em seguida quebrando um pouco do clima, com mais
cadência e uma base mais limpa.
A instrumental Louva-A-Deus
tem um quê de Black Sabbath em sua intro pesada e tensa e mantém o clima
sombrio com os graves do baixo de Alexandre Tito sustentando sua melodia. Um Dia de Fúria tem um começo mais
experimental (que se repete em outras partes da canção) e evolui para algo mais
pesado (deixo claro que todos os sons da banda tem bastante pegada). A letra é
digna daqueles dias em que estamos cheios da vida caótica, e muitas vezes sem
sentido, que levamos. Aos moradores de grandes cidades, esta canção é
obrigatória na playlist.
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Capa do disco / Ilustração e Design: Dinho Bento |
A faixa-título, Rock
Errado, vem em seguida metendo o pé na porta, com seu arranjo punk e
direto, falando sobre a originalidade do Seu Juvenal. Rock de verdade parece
tão difícil de alcançar em tempos onde qualquer cabeça de bagre se vende para o
mercado comercial fonográfico e produz mais e mais porcarias pasteurizadas. A
faixa conta com a participação de Manu “Joker” Henriques (Uganga, ex-Sarcófago)
nos vocais.
“[...] Sigo em frente enquanto as pedras rolam
Passando por cima do seu som pasteurizado [...]”
Moleque
Dissonante é uma crítica social aos jovens que vivem à margem da
sociedade, envolvidos com drogas e sem perspectiva de vida. Como a letra diz,
são fáceis de encontrar em qualquer cidade grande.
“[...] Eu vou contar uma história bem real de um garoto
pra lá de normal
Dos que se encontram em toda esquina do centro de uma
cidade grande [...] “
A
Chuva Não Cai aparece para alterar o tema da conversa e se
mostra uma espécie de balada romântico-realista, com um arranjo bem intimista e
cadenciado.
Para encerrar, Burca
uma melodia tensa, com grande presença do piano, que traz um ar de tristeza e melancolia.
No fim uma explosão punk, pra botar pra fora toda a raiva e revolta que se
possa ter.
O Seu Juvenal apresenta um disco conciso, onde percebe-se
que a banda preza pela originalidade. Além disso, com bastante criatividade,
ela mostra que o seu Rock Errado talvez seja o mais certo a se fazer nos tempos
líquidos em que vivemos.
FICHA
TÉCNICA
Ano: 2014
Artista: Seu
Juvenal
Álbum: Rock
Errado
Músicos:
Bruno
Bastos (vocal), Edson Zacca (guitarra, violão e voz), Alexandre Tito (baixo), Renato
Zaca (bateria e voz).
Participações: Guilherme
Demente (guitar noise em Moleque Dissonante e Um Dia de Fúria), Euler Alves
(percussão em A Chuva Não Cai), Guite Congo Powers (guitarra em A Chuva Não
Cai), Pamelli Marafon (piano e teclado em A Chuva Não Cai), Maxsuel Sancho
(baixo acústico em Asfalto), Manu “Joker” Henriques (voz em Rock Errado), Cleide
Sara (voz em Rock Errado), Camila Vieira (voz em Rock Errado), Pitágoras
Silveira (piano em Burca) e Ronaldo Vilela (voz e violão em Louva-A-Deus).
Track
list
01 Homem Analógico
02 Free Ordinária
03 Antropofagia Disfarçada
04 Asfalto
05 Louva-A-Deus
06 Um Dia de Fúria
07 Rock Errado
08 Moleque Dissonante
09 A Chuva Não Cai
10 Burca
Dossiê do Rock: Revelando o passado. Incentivando o futuro.